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Foto do escritorAndré Nogueira

Não julgue o fundo pela capa | #03

Atualizado: 24 de mar. de 2023

Não julgue um fundo de investimento por sua rentabilidade. Compreenda que cada fundo possui objetivos e características diferentes, não fazendo de um necessariamente melhor do que outro, mas que um pode ser melhor do que outro para alguém específico.



Algo que o livro "O Mais Importante Para O Investidor", de Howard Marks, me proporcionou, foi uma maior admiração por fundos de investimento que não possuem rentabilidades de "capa de revista". Não que qualquer fundo seja digno de admiração, não. Há fundos que entregam performance desprezível, talvez enfrentando alta volatilidade e risco, cobrando taxas de gestão e performance que dizimam toda a rentabilidade recebida pelos cotistas.


Até há pouco tempo, eu costumava ter admiração somente por fundos de investimento com rentabilidades extraordinárias — desde que possuíssem um longo track record, considerando cada qual em sua categoria (ações, hedge, renda fixa, multimercado etc). Acredito que isso atraia a maioria dos investidores, afinal, naturalmente que todos queremos rentabilizar o patrimônio da melhor maneira possível. Mas não compreendia como alguém poderia se interessar por fundos que entregam rentabilidade apenas marginalmente superior à média do mercado. Tinha a impressão de que investidores só se interessavam por eles por causa da fama do gestor do fundo. Entretanto, após ter lido Howard Marks, passei a entender porquê tais fundos de rentabilidade não tão surpreendente, certas vezes entregando a mesma rentabilidade de um fundo de índice, são aclamados e reconhecidos. Compreendi que tais fundos não necessariamente buscam uma rentabilidade extraordinária, mas sim um bom gerenciamento de risco ou, talvez, baixa volatilidade. (Inclusive, eu considerava que cálculo de risco só servia realmente para fins acadêmicos, que era um tanto inútil ficar calculando risco e volatilidade de carteira — basta uma boa diversificação. De certa maneira, ainda penso assim. Só que, para mim, particularmente, o sobe e desce do mercado é irrelevante — considero como risco, a perda permanente de capital. Mas essa não é a verdade para todos).


Temos que ter sempre em mente que um fundo serve aos seus clientes — o fundo deve contas aos clientes — e, a verdade é que, a maioria destes detesta ver seu patrimônio se desvalorizar. A maioria das pessoas, ao encarar desvalorização de patrimônio, corre para resgatar seu dinheiro, seguindo a tendência de vender na baixa e comprar na alta, se movendo em manada, em desespero — uma receita para perder dinheiro.


Sendo assim, alguns fundos buscam aplicar estratégias que reduzam a volatilidade e risco do fundo, mantendo a tranquilidade dos cotistas. Por exemplo, digamos que, em certo período, determinado fundo auferiu a mesma rentabilidade que seu benchmark. Atingiu isso com que volatilidade? Correndo quanto risco? O fundo pode ter atingido a mesma rentabilidade que o benchmark enfrentando muito menos volatilidade e risco. Esse tipo de trabalho evita que cotistas fiquem assustados com as quedas de mercado, evitando também os resgates. O trabalho bem feito de um gestor pode estar estar mais relacionado à sua capacidade de proferir ganhos com maior eficiência — e mantendo os cotistas tranquilos — do que em atingir altas rentabilidades.


Os fundos e gestores que realizam um trabalho assim dificilmente sairão em capas de revista, e talvez nunca receberão os devidos créditos que merecem. Mas Howard Marks abriu meus olhos nesse sentido.


Um fundo de baixa volatilidade que tenha atingido rentabilidade média próxima à do benchmark pode ser muito mais benéfico para determinado investidor (com aversão a volatilidade) do que:

  • Um fundo de alta volatilidade que tenha atingido rentabilidade média muito superior à do benchmark (mesmo com longo track record); ou, até mesmo

  • Do que um ETF que replique o benchmark (pois o ETF pode passar por altas volatilidades e fazer com que o investidor não consiga sossegar).

Lembrando, é claro, que rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura.


Aos investidores que buscam um fundo de investimento no qual investir, é importantíssimo destacar tamanha relevância de se ler a lâmina dos fundos de investimento para conhecer as características e objetivos dos fundos, bem como seus gestores, antes de tomar uma decisão. Isso é de extrema importância! A tarefa mais importante que o investidor procurando por um fundo de investimento deve realizar é a leitura da lâmina dos fundos. Somente assim o investidor saberá se tal fundo se aplica ao seu perfil. O investidor não deve mentir a si mesmo quanto às suas tolerâncias e intolerâncias. Se essa tarefa não for feita, mais cedo ou mais tarde o investidor se verá retirando dinheiro do fundo, havendo uma grande chance disso ser feito num momento inoportuno.


Para aqueles que tenham maior interesse no assunto, sugiro pesquisar pelo conceito de "Fronteira Eficiente" ("Fronteira de Markowitz"). A Fronteira Eficiente é representada por um conjunto de carteiras que oferecem um retorno ótimo para determinado risco. Exemplificando, de maneira simplista, consideremos os ativos hipotéticos X e Y. O retorno esperado para cada um dos ativos é de 10% ao ano. No entanto, o risco de X é maior por causa de certas especificidades. Por que o investidor arriscaria investir em X se ele pode investir num ativo mais seguro, que proporcionará o mesmo retorno? Ninguém quer correr risco "de graça". Um investidor racional vai requerer maior retorno para um ativo mais arriscado. Então, ele investe em Y. Nesse exemplo, o ativo Y está mais próximo da Fronteira Eficiente do que o ativo X, justamente porque ele é mais eficiente: oferece o mesmo retorno que X, correndo menos risco. Certamente, um trabalho bem feito por um gestor aproximará a carteira de investimento da Fronteira de Markowitz.

Fonte: wikimedia.org. Fronteira Eficiente de Markowitz.


O livro de Howard Marks me ofereceu muitos aprendizados e "abriu minha mente" de muitas maneiras, além dessa mencionada neste insight. O livro é leitura recomendada por Henrique Bredda — gestor da Alaska Asset Management — e, agora, por mim também.


Para finalizar, gostaria apenas de resumir a principal lição que aprendi em "O Mais Importante Para O Investidor":


Não julgue um fundo de investimento por sua rentabilidade. Mas, se for fazê-lo, compreenda qual o risco corrido para atingi-la e com quanta volatilidade.
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